Era uma cidade do interior. Passava-se meia hora do almoço.
Os meninos jogavam bola na rua, as meninas brincavam de boneca na garagem e os adultos jogavam conversa fora enquanto em frente da tv que passava o Domingo Legal na televisão.
Um garotinho que estava no colo da mãe diz algo no ouvido daquela que o acolhia e ela o leva até o portão. Deveria ter uns três ou quatro anos.
A mãe pediu que um dos meninos que “batiam uma pelada” que tocassem a campainha da casa que ficava bem em frente a que o menino estava com a mulher.
Um dos garotos, abre a pequena janela do portão e toca a campainha. O meninho de no máximo cinco anos e boné na cabeça colocava o dedo no céu da boca e esperava que alguém o atendesse.
Até que um senhor de idade bem avançada e cabelos e bigode branco olhou pela janela e disse:
- Quem foi o engraçadinho dessa vez? Tocaram a campainha mas não vejo ninguém!
- Sou eu vô, aqui! – O neto pulava para que o avô o enxergasse.
- Que brincadeira sem graça é essa? Falam e não aparecem? Pode uma coisa dessa?
- Vôôôôôôôôôôôô, olha pra baixo, sou eu! Seu neto!
- Ah é você, meu “cabinha!”
O tempo todo o senhor sabia que era o neto, mas queria brincar com o neto.
Rapidamente então, ele abriu o portão e a criança entrou na casa do avô. Um belo quintal: árvores com belos frutos, gatos, cachorros, passarinhos que cantavam e ao fundo a casa do avô. Era quase um sítio.
- Seu pai “tá” dormindo.
- Eu “vim” pá ficar com o senhor.
Pediu a benção para o avô e se sentaram em um banco que ficava no lindo paraíso que o avô cuidava.
Conversavam várias coisas. Sobre a escola que menino começava a ir no começo daquele ano, sobre sua irmã, o emprego novo do pai, o cinema que foi pela primeira vez, enfim.
E o avô lhe ensinava jogos simples, mas fascinantes para uma criança. Brincadeiras com palitinhos, jogo da velha e damas, que o velho sempre deixava o menino sapeca ganhar.
Até que então um avião passa e em meio aquele silêncio gostoso, o menino abre a boca e olha pra cima.
- Semana passada eu “tava” passeando num desse aí! – Disse o avô.
- Você? – O neto olhou desconfiado para o avô.
- É! Tem outra pessoa aqui?
- Não. Mas foi com quem?
- Sozinho. Fui ver o Fernando Henrique – Era o Presidente da época.
- Foi nada! – O menino colocou a mão na cintura e continuou. – Olha, o senhor usa bengala, vai sair de avião por aí e sozinho ainda?
O avô sorriu para o neto, o neto para ele e disse:
- Eu não gosto de você!
- Por quê?
- Você é o único neto que não me deixa mentir! – O idoso foi contando com os dedos da mão enrugada cada um dos netos – O Chico só vai pra pracinha procurar namorada, sua irmã é sempre na dela, a Manu concorda com a cabeça. E tem a Silvinha. Ah a Silvinha sim é legal! Deixa eu contar minhas lorotas e ainda pede pra eu contar mais!
- Ela é muito boba! – Ria o neto com um dente de leite faltando.
- Eu invento cada história e ela acredita em todas! – Ria o avô sem dois ou três dentes da frente devido o tempo.
Pensava o avô:
- Queria que esse “cabria” morasse aqui comigo!
O senhor não conseguiu “criar” os filhos direito por ter que trabalhar muito.
- Se ele soubesse que a única coisa que eu gosto de vir aqui é por causa dele! – Pensava o neto, que ia semanalmente de São Paulo para a cidade do interior ver o avô paterno e os tios maternos.
Nisso, o avô abraçou o neto no banco de seu jardim. Não deram cinco minutos e menino dormiu. Acordou apenas no carro quando já estava a caminho para casa
Sua mãe deu a bolacha Negresco que o avô sempre dava para ele e para a irmã irem comendo até chegarem em casa. E ele lembrou de como amava o avô e daquela tarde.
Por Eliaquim Batista
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