Na nova edição do Papo de Escritor o convidado é com o estreante na literatura Sidnei Luz, assistente Social por profissão, atua como supervisor de serviço socioassistenciais no extremo sul da cidade de São Paulo, reside em Diadema, no grande ABC paulista. Inspirações para histórias não faltam em sua produtiva e desafiadora função. Também é cantor e compositor, especialmente de rock.
Perfeição Desfeita é o seu primeiro romance. Um livro que o autor sentiu ter sido escrito por uma espécie de catarse. Tudo o perturbava para que ele materializasse em palavras, o que já existia escrito em sua mente.
Eliaquim Batista: Sidnei, para começarmos nossa conversa, gostaria de saber como você leva a vida com diversas carreiras, pois você é assistente social, cantor, compositor e agora escritor. Como você consegue conciliar todas as áreas?
Sidnei Luz: Na verdade, enquanto profissional eu sou assistente social, as outras atividades funciona para mim como um meio de explorar minha capacidade criativa e também manifestar tudo que perpassa minha rotina de trabalho. A arte é um refúgio, no qual eu posso externar minhas impressões sobre a dinâmica social, e com isso, me reconhecer nessa mesma dinâmica.
Eliaquim Batista: E como você chegou até a literatura? E quando foi que falou consigo "Vou escrever um livro"?
Sidnei Luz: Sempre estive envolvido com as artes, sobre a literatura, o interesse surgiu em minha adolescência, no ensino médio. Participava de projetos literários, os quais proporcionaram que eu entrasse em contato com a literatura brasileira. Mas o momento em que mais li, foi no período em que trabalhei como cobrador de ônibus, ocasião em que conheci alguns escritores, e acabei por me interessar definitivamente pela literatura. Sobre de fato criar minhas próprias obras, iniciei há pouco tempo, primeiros com contos, de forma desinteressada, o que acabou por me convencer de que eu tinha potencial para um trabalho mais robusto, momento em que me senti compelido em escrever um romance, assim nasceu meu primeiro livro, o romance Perfeição desfeita.
"[...] o momento em que mais li, foi no período em que trabalhei como cobrador de ônibus, ocasião em que conheci alguns escritores, e acabei por me interessar definitivamente pela literatura."
Eliaquim Batista: Em seu livro você apresenta problemas da sociedade brasileira, como desigualdades sociais, preconceito racial e dependência das redes sociais. Sua carreira de assistente social ajudou você a escolher esses temas?
Sidnei Luz: Meu trabalho como autor é intimamente ligado a minha profissão, e sendo a atuação de assistente social permeada pelas problemáticas das relações humanas, funciona para mim como um rico laboratório para identificar quais temas eu deva discutir em meu trabalho literário. Sendo assim, as duas atividades são complementares, uma contribuindo com a outra. Em minha atuação profissional, lido com as cruezas da vida real, na literatura, eu elaboro essas “cruezas” em mim e as torno apresentáveis para os leitores.
Eliaquim Batista: No início de Perfeição Desfeita, o foco está em um casal de nordestinos que migra para São Paulo na década de 1980, mesmo período que esse fenômeno aconteceu no nosso país. Por que decidiu trazer essa questão na obra e como você vê essa situação em 2023?
Sidnei Luz: Meus pais não foram migrantes nordestinos, mas foram migrantes sulistas, e com um mesmo intuito que o casal retratado em Perfeição desfeita – encontrar em São Paulo condições diferenciadas para a vida. E também como os personagens do romance, fomos moradores do Grande ABC Paulista, em uma década em que o sonho da maioria dos moradores das favelas da região, era trabalhar em uma grande montadora. O romance é um retrato dos anos oitenta e das décadas posteriores, é uma discussão sobre a relativização da busca pela perfeição em alguns níveis, desde o atendimento das padronizações das formas em se estar no mundo, até a busca em atender as exigências estéticas fetichizadas pela sociedade.
Eliaquim Batista: E conta pra gente sobre a sua vida e carreira de cantor.
Sidnei Luz: Meu envolvimento com a música é mais uma de minhas formas em transformar indignação e amor em arte, uma de minhas tentativas em tornar a existência, diríamos, um pouco mais leve. Em minhas composições sempre estarão elementos similares aos discutidos em meus trabalhos literários.
Confira um dos sucessos de Sid Luz:
Eliaquim Batista: Sidnei, um grande abraço, muito obrigado e sucesso como escritor!
Sidnei Luz: Sou eu quem agradeço, Eliaquim. Foi um grande prazer conversar contigo.
Saiba mais sobre Perfeição Desfeita, de Sidnei Luz:
Nem toda história precisa ter um protagonista. Pode ter vários. De início o leitor é apresentado a Geralda e Francisco, casal do interior de Pernambuco que em 1980 se muda para São Paulo em busca de emprego e melhores condições de vida. Na capital eles também geram Ângela, uma menina albina e de saúde debilitada, que passa a sofrer bullying na escola. No decorrer dos anos, após uma sequência de abusos, ela já adulta decide ser mãe, e opta pela inseminação artificial. Assim nasce Ézio.
A periclitante convivência nas redes sociais é mais uma das problemáticas introduzidas ao enredo, que aborda outras questões inerentes ao comportamento humano e a uma sociedade excludente e preconceituosa. Padrões de beleza, discriminação econômica e social, política, hegemonia de raça e de poder fazem de Perfeição Desfeita também uma obra sobre humanidades.
Abraços Literários,
Comentarios