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Resenha | EFREM: O EXÍLIO, de Sue Pir (Editora Viseu)

Recebido em parceria com a LC Agência de Comunicação devido à Leitura Coletiva do livro, Efrem: O Exílio é uma aventura de um homem que aparece em uma metrópole qualquer e transforma vidas de pessoas que moram no lugar.



Logo nas primeiras páginas de Efrem: O Exílio, percebe-se que Sue Pir está menos interessada em explicar um fenômeno cósmico do que em usá-lo como catalisador para uma jornada interior. A queda de um corpo celeste, evento típico do gênero ficção científica, serve aqui como metáfora para a colisão entre o extraordinário e o cotidiano — um cotidiano marcado pelo desencanto e pelo automatismo de viver.


Eli, o primeiro personagem com quem Efrem cruza, representa esse homem contemporâneo desencantado, que perdeu o eixo e o propósito da vida. É um personagem com traços existencialistas, embora seus dilemas sejam tratados de forma acessível, quase didática.


Efrem, por sua vez, é o "estrangeiro absoluto", não só por vir de outro planeta, como sugerem várias pistas narrativas, mas por carregar consigo uma ética quase mística, que faz lembrar os arquétipos do herói redentor. Com seus conselhos, habilidades estranhas e aura de serenidade, ele faz o leitor oscilar entre o fascínio e a desconfiança. É difícil não enxergar, nesse personagem, ecos de figuras messiânicas, ou mesmo de certos "viajantes do tempo" da dita literatura new age.


“Entrando em casa, Eli percebeu pela fresta entre o piso e a porta do quarto de Efrem uma luz de brilho muito intenso diferente da luz emitida comumente pelas lâmpadas. Estava acostumado com essas estranhezas que ocorriam quando ele estava por perto, deduzindo que havia retornado.”

p. 193


O espaço da narrativa é uma metrópole, marcada por contrastes sociais e tecnológicos, mas que ganha densidade simbólica justamente por sua impessoalidade. Podemos dizer que a história acontece em "qualquer cidade grande", onde o humano se tornou desatento, onde a pressa e o ego sufocam a empatia. Poderia ser uma São Paulo onde os olhares estão mais voltados para o celular do que para onde se vai? Ou ainda uma Nova York em que a luta empresarial está mais viva do que nunca? Ou ainda, uma Tóquio com a tecnologia em um patamar sem igual? Todas essas respostas podem ser positivas para a cidade em que vivem Eli, Alicia e Meg


A atendente da lanchonete Alicia e seu filho Mark, assim como o seu ex, o vilão R.D. e a sedutora gerente do jornal Meg, representam arquétipos bem delineados, ainda que por vezes simplificados. Alicia carrega a culpa, o passado e o desejo de recomeço. Já Mark representa a triste figura da infância violentada pela crueldade cotidiana, o famoso bullying escolar. R.D. é o mal travestido de poder, e Meg, o desejo que corrompe. Essas figuras funcionam como peças simbólicas numa engrenagem maior: a da crítica social e as forças vindas de fora de nosso planeta.



Literariamente, o romance oscila entre um realismo e uma metafísica ficcionalizada, com direito a temas como transição planetária, física quântica, inteligência artificial e crítica ambiental. A linguagem de Sue Pir é direta, sem afetações, e esse estilo casa bem com a proposta de tornar acessíveis ideias que, em mãos menos hábeis, poderiam soar panfletárias ou esotéricas demais.


O uso de Efrem como um observador que questiona nossas práticas destrutivas é eficiente — e a citação sobre a poluição das águas, terras e ar, por exemplo, ecoa como crítica sem soar doutrinária.

O final aberto pode frustrar os que esperam um fechamento clássico, mas com um subtítulo de “O Exílio” e a deixa clara do final, sem spoilers por aqui, mas que lembram as cenas pós-créditos dos filmes da Marvel, faz com que o leitor de EFREM entenda perfeitamente que se trata de uma saga ou uma trilogia. A torcida é que futuramente o próximo volume aprofunde na figura do protagonista e a sua origem. Quem sabe acerto no subtítulo? (risos)


Mas talvez o maior mérito de Efrem: O Exílio esteja justamente em sua recusa ao conforto: não entrega respostas, mas convites. Convites para pensar, sentir e olhar para o mundo com menos ceticismo e mais encantamento. E, convenhamos, num cenário literário onde a ficção científica e a distopia nacional ainda engatinha entre fórmulas hollywoodianas, onde poucos nomes são conhecidos – cito aqui Ignácio de Loyola Brandão e o seu “Não verás país nenhum”, e Marina Colasanti e os seus contos nas suas “Mais de 100 histórias maravilhosas” –, é louvável que uma autora brinque entre gênero, espiritualidade e crítica existencial.


Por fim, digo que, se Sue Pir vier de outro planeta, que outros escritores brasileiros que queiram se aventurar na ficção científica, comecem a procurar seus meteoros também. Precisamos de mais vozes que ousem cruzar a atmosfera do lugar-comum.


Nota: 4/5.

 

Adquira o seu exemplar de EFREM: O EXÍLIO (Editora Viseu), de Sue Pir, na AMAZON.

Para saber mais da obra, siga no Instagram o perfil exclusivo do livro: @efremoexilio.

 

Abraços Literários,


1 Comment


Foi um prazer ler com vcs. @melivrandocomlivros

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