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10 histórias para tentar entender um mundo caótico | Resenha

Um livro escrito por dois intelectuais dos nossos tempos.


“Os 22 homens mais ricos do mundo têm mais riqueza do que todas as mulheres da África”.

pág. 153


Um jornalista e uma advogada escrevem um livro urgente a partir da pandemia do novo coronavírus.

O título da obra cita 10 “histórias”, só que mais que simples pensamentos fictícios, são momentos muito reais vividos por cada um dos autores ao redor do mundo.


Em forma de diálogo e troca de experiências, Jamil e Ruth se revezam na abertura dos capítulos e contam uma história que vivenciaram em algum lugar do mundo.


Na diagramação do livro, páginas azuis deixa linda a abertura de cada capítulo. Cada vez que elas surgem, vemos o mapa mundi e em destaque a localização de onde ocorre o primeiro testemunho do capítulo.


Logo na abertura do livro, entramos em uma viagem para a cidade de Bagamoyo, na Tanzânia, onde a pobreza é quase extrema em todo o país. Jamil Chade esteve no país para um trabalho sobre a Aids na África, mas o que surpreende é o que ele encontrou naquela região e o que veio a viver um pouco após sua visita:


"Como num sonho, as imagens daquelas garotas imediatamente apareceram em minha mente. Mas o conteúdo daquela carta era um verdadeiro pesadelo. A garota me escrevia com um apelo comovedor. "Por favor, case-se comigo e me tire daqui. Prometo que vou cuidar de você, limpar sua casa e sou muito boa cozinheira." A carta contava que sua mãe havia morrido de Aids – naquele mesmo hospital – e que seu pai também estava morto. Cada um dos oito filhos fora buscar formas de sobreviver e ela era a última da família a ter permanecido na empobrecida cidade. "Preciso sair daqui", escrevia a garota. A cada tantas frases, uma promessa se repetia: "Eu vou te amar".

Pág. 21


Daí os autores começam a falar sobre o atual problema da fuga de africanos para a Europa em busca de esperança por uma vida melhor. Sinceramente, ao ler esse relato, meu coração ficou um tanto quanto apertado.


Mas o capítulo que mais me chamou a atenção foi sobre a Colômbia, por estar tão próximo de nós, um país que faz fronteira com o nosso!


O relato é de Ruth Manus, que cita uma experiência que viveu ainda muito jovem, com apenas 23 anos. Creio que nenhum amigo meu de 23 anos ou um pouco menos, tenha vivido o que a advogada viveu.


O primeiro choque cultural, foi ao encontrar policiais por todos os lados da capital, Bogotá, como por exemplo dentro de shoppings, e se deparar com furgões e tanques de guerra pela cidade e os cidadãos locais não se assustarem, fugir, ou se impressionar com a cena.


Mas o destino da moça era Barranquila, mais para o interior do país. Local que apenas uma empresa prestava o serviço de transporte.


"As passagens eram compradas apenas em dinheiro e o 'tíquete' era um bilhete escrito à mão"

Pág. 147


Só que o medo pairou em poucos minutos após ela embarcar no veículo:


"Foi quando despontou, de dentro da casa, um homem com uma câmera de vídeo. [...] Entrou sem titubear e começou imediatamente a filmar os rostos de cada um dos passageiros, com closes lentos e persistentes. Ninguém questionou nada. Mas eu, no meu espanhol inseguro, perguntei de que se tratava. E o homem respondeu tranquilamente: "É para termos o registro do rosto dos passageiros em caso de sequestro na estrada" [...] Peguei meu celular e mandei uma mensagem aos meus pais dizendo apenas que os amava."

pág. 147 e 148


Cada capítulo da obra, traz cinco temas ligados entre si e que serão os pontos centrais das vivências e comentários daquele capítulo.


Por exemplo, no capítulo “Andando no escuro na ilha do capital”, conta com os seguintes temas: “dinheiro, impostos, Contrato Social, economia e corrupção.” E logo no primeiro relato de Jamil, ele comenta sobre paraísos fiscais, desvio de dinheiro e crimes fiscais e cita um brasileiro, o ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf.


Eu tinha uma ideia de como funcionavam esses bancos que tem contas bancárias de brasileiros de valores de deixar o queixo de qualquer um caído, mas o livro me deixou muito claro como ladrões conseguem esconder dinheiro de forma simples.


Outra coisa bacana no capítulo, é que você vai lendo sobre cidades desconhecidas do mundo, ou que sabemos que são pobres, aí vem a Suíça que é um país rico e europeu. Aí vemos que até em lugares que a população tem “muita grana” há desvios de dinheiro, há roubo e corrupção.


Uma viagem por culturas da nossa América do Sul até o Vietnã, é um belo presente para qualquer pessoa, inclusive para você mesmo! (kkkkkkkkk)


O livro só não é perfeito pois senti falta de um capítulo sobre o Brasil. Diversas vezes nosso país é citado, mas não aparece em nenhuma abertura de capítulo. Pode ser pelo fato de ser escrito por um correspondente que já morou em diversos países e uma advogada especializada no direito europeu.


Mesmo assim, vale muito a pena a leitura. Me proporcionou muito entretenimento e aprendizagem.



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