1° Capítulo | Livro: UMA FAMÍLIA FELIZ (Companhia das Letras), de RAPHAEL MONTES

Que tal começarmos pelo fim???

Sei que muitos leitores não gostam de livros assim, mas a culpa não é minha, é de Raphael Montes, autor best-seller que mostra como o brasileiro que lê, ainda devora ferozmente páginas de um bom livro. Isso se dá devido o seu gênero literário, crimes e terror. Se você não acredita que o gênero ajuda para que o autor seja um fenômeno, basta olhar para os jornais policialescos, à la espreme que sai sangue, com momentos de altos e baixos, mas seguem firmes no fim das tardes da tv brasileira.

“Nunca pensei que chegaria a este momento. E aqui estou. Destruída, acabada, morta por dentro [...]. Fico a pá na terra e vou abrindo a cova. Apesar de demandar grande esforço, tudo ainda parece um sonho. Na verdade, um pesadelo.”

pág. 9

Mas vamos falar de como começa “Uma família feliz” (Companhia das Letras), clássico do autor, pois este é o objetivo da sessão 1º Capítulo aqui do blog. Então vamos do começo, sem passar pelo pós-sucesso do livro, que ganhou adaptação audiovisual com Grazi Massafera e Reynaldo Gianechini como protagonistas.

O lado bom de começar um livro de Raphael Montes pelo fim, é que ele, juntamente com a equipe editorial, sempre situa muito bem o leitor. Primeiro, uma página indica “O fim” e o primeiro capítulo é numerado como a parte “30” da narrativa. Eva, narradora-personagem da obra, esposa e mãe, inicia o livro em um ato nada convencional para uma mãe: enterrando uma das filhas. E aqui, é sem caixão e longe de um cemitério, tudo acontece no jardim de uma casa, a mesma que a personagem passou a infância.

O leitor pode ficar um pouco confuso, mas outras técnicas de escritas muito bem praticadas, como a de mostrar ao invés de simplesmente escrever os fatos, faz com que rapidamente qualquer um fique chocado com a cena, além da bendita curiosidade em saber o que levou uma mãe fazer isso com uma de suas crianças.

“Eu me agacho para pegá-la no colo. Aos dez anos, ela pesa pouco mais de vinte e cinco quilos. Com delicadeza, eu a deito no túmulo e, evitando olhar para baixo, começo a cobrir seu corpinho com ajuda da pá.”

p. 10

Não fica nítido ao leitor se ela causou a morte da menina, ou não. Logo, surgem as hipóteses que qualquer pessoa pensa ao ver um crime que ganha a imprensa e repercussão pública, onde a polícia ainda investiga quem é o culpado. Eva seria a mandante? Foi cúmplice? Ela fez tudo sozinha? Será que esconde algo de alguém e por isso fez o que fez?

Nisso, um celular toca, é de sua filha, Angela, gêmea da falecida, mas que estava em seu poder. É o seu esposo, Vicente, mas poucas palavras são trocadas, e a curiosidade fica mais aguçada. E, ao voltar para a casa, Eva pega a sua filha, coloca a menina no carro a contra sua vontade, e passa a dirigir o carro em alta velocidade. O que acontecerá com mãe e filha ao entrarem na rodovia???

Com o fim do capítulo, a próxima página abre mais um bloco do livro, intitulado “Um ano antes do fim”, e inicia com o capítulo “01”. É óbvio que o leitor irá virar a página imediatamente. Será que será fácil de largar o livro?

Logo, Raphael Montes, faz do primeiro capítulo de “Uma família feliz” um convite para vermos que talvez eles não fossem tão felizes assim, ou algum fato fez com que as coisas virassem de ponta-cabeça na vida de uma possível família perfeita do comercial de margarina.

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Abraços Literários,