Toda sexta-feira o encontrava, depois do trabalho passava no ponto que ele ficava e sempre falava:
- Uma pipoca média com bacon, por favor!
E ele prontamente me servia.
No começo eu nem olhava para sua cara, só sabia que ele devia ter mais ou menos minha idade e que era muito gentil com seus clientes.
Enquanto o pessoal do trabalho ia para o bar, eu poupava meu pequeno salário e comia uma pipoca na manteiga.
O tempo foi passando e reparei que seu carrinho e ele também.
Como por exemplo, em Dezembro, ele o enfeitava com um belo Papai Noel e bolas natalinas o seu carrinho, depois passou a ter pipoca doce e batata também.
Eu ganhava uma promoção no trabalho depois de um tempo, mas não deixava de comer minha pipoca e ficar dez minutos ali parado olhando o movimento bem em frente ao shopping e a estação de trem.
Até que em uma plena sexta-feira ele me disse:
- Sexta-feira, hein? – com um ar de alívio depois de uma semana puxada.
- Opa! Depois daqui casa!
- Aí sim, hein mano!
Já deveria comprar suas pipocas aos cinco anos. Então fiz o que meu primeiro chefe sempre me ensinou ao conhecer uma pessoa:
- Qual o seu nome?
- Me chama pelo meu apelido, pai!
- Qual é?
- Pipoqueiro!
Eu ri e ele também.
Logo, falamos sobre muitas coisas. Como meu trabalho era estressante naquela agência de marketing, ele disse como foi ver o pai se afogar na bebida e depois vê-lo morrer de cirrose e falamos coisas que qualquer rapaz de 20, 30 anos falaria: Do meu time do coração, das meninas que passavam na rua naquele verão e como o governo era "FDP" conosco: Pobres!
Naquele dia ganhei um amigo!
A solidão que encontrava todos os dias ao abrir a porta escura da minha casa, com minha mãe na Igreja e minha irmã na casa do namorado se acabou, pois ficava até umas nove, dez horas conversando com o Pipoqueiro, o Fera, o Parça, o Tio, o Pai, o Júnior, ou melhor... o Felipe, o meu amigo de fé!
Hoje ele aceita cartão, tem álcool em gel pras clientes mais frescas, guardanapo pras crianças e um monte de coisas para comer junto: ketchup, mostarda, pimenta, pra pipoca doce tem “leite moça” e uns negócios que não nem sei o nome.
A pipoca, só comprava às sextas-feiras, mas até hoje paro em frente ao seu carrinho pra trocar nossas ideias, aquelas que “só nóis sabe”. E mais legal foi que uma cliente dele, virou minha namorada, noiva...
E mais feliz foi ver semana passada ele com a Joana, colega minha da época de escola, entrando na Igreja como Padrinhos desse meu Casamento.
Por Eliaquim Batista.
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