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Resenha | CINEMA BRASILEIRO NO SÉCULO 21, de Franthiesco Ballerini (Summus Editorial)

Mais do que uma aula, o livro é um curso completo sobre o cinema brasileiro contemporâneo do nosso século



Com linguagem clara e acessível ao leigo e uma riqueza gigante a ser usada por estudantes da área, jovens atores, aspirantes à roteiristas, diretores, etc, Franthiesco Ballerini inicia a obra Cinema Brasileiro no Século 21 (Summus Editorial) com a chegada da sétima arte no Brasil em 1896 e faz um grande apanhado histórico da sétima arte ao longo do século XX em nosso país.


Ainda no início da obra, vemos a dita queda ou morte do cinema nacional, com a extinção de incentivos ao audiovisual, feitas pelo ex-presidente Fernando Collor, até a volta em 1995, período que ficou conhecido como o Cinema da Retomada, responsável por clássicos como Central do Brasil (1998), e termina o primeiro capítulo da obra em 2002, com o clássico Cidade de Deus, dirigido por Fernando Meirelles.


Em seguida, a obra dedica um capítulo para cada área necessária para se criar um filme, como produção, direção, roteiro, atuação, distribuição, entre outros, e sempre com os acontecimentos do cinema nacional brasileiro, a partir da virada do milênio. E são citadas obras de referência e de profissionais bem-sucedidos em cada uma das especialidades, além dos filmes que merecem destaque. O autor encerra cada capítulo de uma forma muito peculiar, além de criativa: Uma entrevista com um grande nome de referência do cinema brasileiro da atualidade. Os entrevistados serão abordados mais adiante.



Ao ler a obra, é inevitável observar como o cinema brasileiro é rico, mas não há tanto investimento como em outros lugares do mundo. E não precisa muita reflexão para perceber que é sempre mais do mesmo que faz sucesso, como as cinefavelas e obras que apresentam problemas sociais do país, como Cidade de Deus (2002), Carandiru (2003), Tropa de Elite (2007); As comédias com atores globais, como Divã (2009), com Lilia Cabral e José Mayer como protagonistas. Sem falar das franquias infantis de Renato Aragão e Xuxa.


Além do mais, as adaptações, sejam dos livros, peças ou televisão, como é o caso de Trair e coçar é só começar (2006), A grande família (2007), e sem dúvidas, O auto da compadecida (2000). Esse último, clássico de Ariano Suassuna, é sucesso por todos os locais que passou, com origem no teatro, passando pela televisão e com sua adaptação para as telonas, consagrando Matheus Nachtergaele e Selton Mello no papel da dupla de protagonistas, João Grilo e Chicó, respectivamente.


“Já João Batista de Andrade atribui o sucesso das comédias no cinema à sua ligação com produtos televisivos, sendo as principais estratégias utilizadas a adaptação cinematográfica de programas de humor de grande audiência (Os normais, Casseta & Planeta, A grande família) e a escalação de astros televisivos, como Tony Ramos e Glória Pires (Se eu fosse você), como protagonistas dessas comédias.”

p. 97


E por fim, as cinebiografias, pois levam fãs ao cinema, já que as pessoas compram o ingresso para ver a trajetória do artista, e dessa forma conseguem facilmente serem sucesso de público. A fórmula deu certo em Cazuza – O Tempo Não Para (2004), Olga (2004), Pelé Eterno (2004), 2 Filhos de Francisco (2005) e Lula, o Filho do Brasil (2009).

 

Como já dito, algo diferenciado e que vale a pena ler com atenção, são as entrevistas com profissionais de cada uma das áreas do audiovisual brasileiro. Foram dois anos de trabalho do autor para selecionar e encontrar aqueles que contribuiriam com suas falas na obra. Entre os entrevistados, estão nomes importantes da área, como Diler Trindade, produtor de diversos filmes comerciais de astros nacionais, como Xuxa e Renato Aragão; Fernando Bonassi, roteirista de clássicos como Carandiru (2003) e Cazuza – O tempo não para (2004); Bruno Wainer, responsável por distribuir diversos filmes brasileiros, como Meu nome não é Johnny (2008) e Chico Xavier, (2010); Valmir Fernandes, presidente da Cinemark Internacional, maior rede exibidora de filmes do Brasil; Manoel Rangel, diretor da Ancine de 2006 a 2017; Carlos Eduardo Rodrigues, principal diretor da Globo Filmes; e do documentarista Kiko Goifman.


Ballerini se preocupou a convidar docentes para as entrevistas. Em dois dos capítulos, professores de referência falaram sobre o assunto. Sendo eles, os pesquisadores norte-americanos David Foster e Tamara Leah Falicov; e os brasileiros Lina Chamie e Rubens Rewald.



Franthiesco Ballerini, autor de Cinema Brasileiro no Século 21 (Summus Editorial)


E alguns nomes conhecidos do grande público também deixaram seus depoimentos de suas áreas do cinema, sendo eles:


Fernando Meirelles, diretor brasileiro conhecido mundialmente a partir de Cidade de Deus (2002), e que ganhou Hollywood ao dirigir filmes como O jardineiro fiel (2005), Ensaio sobre a cegueira (2008) e mais recentemente Dois Papas (2019).


E os atores Selton Mello, um dos maiores nomes da atuação para cinema, responsável por atuar em filmes como O Auto da Compadecida (2000) e Lisbela e o Prisioneiro (2003); e Wagner Moura, que quase dispensa apresentações, que ganhou grande destaque por atuações como Capitão Nascimento, na franquia Tropa de Elite (2007) e Carandiru (2003).

 

“Os filmes brasileiros têm revelado ótimos atores, nordestinos principalmente, que depois são aproveitados pela TV, que ainda é a maior empregadora de atores do país.”

p. 183 e 184 – Trecho da entrevista de Wagner Moura


O livro é de 2012 e merece uma atualização, pois historicamente passamos por um governo que lutou contra a cultura brasileira e que reduziu incentivos e dificultou a produção do cinema brasileiro. E novas obras que conquistaram o público como o fenômeno da franquia Minha mãe é uma peça, o infantil Carrossel – O Filme, o duvidoso Os dez mandamentos, o histórico Marighela, o documentário Democracia em Vertigem, que disputou o Oscar, e a cinebiografia Nosso sonho, para citar alguns filmes.


Além do mais, novos profissionais surgiram e entre os atores, uma nova edição poderia citar atores como Christian Malheiros, Filipe Bragança, Johnny Massaro e da pequena notável Giulia Benite. Como contar a estreia da veterana Maria Fernanda Candido nas telonas mundiais, seguindo os passos de Sonia Braga, Rodrigo Santoro e Wagner Moura.


Por fim, faço um pedido sincero ao autor, para que se ele vier a pensar em uma nova edição de Cinema brasileiro no século 21, insira um capítulo dedicado ao novo formato de produção e veiculação de programas, filmes e séries, os streamings, onde séries como Sintonia, 3%, Os outros e Bom dia, Verônica merecem destaques.

 

 

 


 

Abraços Literários,


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