É possível um agrônomo ter uma escrita poética?
Edson Freitas de Araújo prova que sim! Em seu romance, um tanto quanto profundo, que acontece no recôncavo baiano e gira em torno de vários mistérios nos personagens ao logo da narrativa.
O autor inicia o livro com um tal de menino do calção de pano fino que ouve a Lenda das Pedras da mãe, Sozinha. A história que o garoto escuta da mãe é sobre como surgiram dois montes da região baiana, Copioba, uma abelha operária, e Aporá, uma flor solitária. No livro, se imagina ser uma história popular, mas na verdade, tudo foi criado pelo autor em um momento de solidão.
“O seu peito apertava ainda mais, pois pressentia que agora, no seu coração, se encontravam pedras, cuja origem muito se assemelhava à daqueles morros.”
p.68
Nessa primeira parte, os nomes dos personagens não são apresentados, isso acontece pois os personagens não tinham sua personalidade construída e após um fato tanto quanto místico (e foi uma das cenas que mais me prendeu) em um rio, o livro ganha um novo rumo.
Com uma personalidade e características marcantes, Quitéria sempre segue o destino de cada um dos personagens e se apresenta algumas vezes como manipuladora e poderosa, outras vezes com um olhar materno e dona do destino de Filinto, Diáfono, Alaíde, Tertuliano e de quem aparece em sua frente.
Em uma escrita densa, descritiva, poucas falas e parágrafos longos, o livro é indicado para ser lido em locais silenciosos, por leitores acostumados com uma escrita rebuscada e que tenha curiosidade por palavras pouco convencionais. Isso faz com que a atenção e um mergulho nas páginas da obra sejam necessários para se compreender a narrativa.
Músicas, cantores e a religiosidade são marcas que deixam claro que os personagens vivem no nordeste e mais precisamente na Bahia. O autor traz ainda temas necessários a serem debatidos em nosso dia a dia, como o machismo, a solidão e relações familiares.
Mesmo sendo um desafio, Lenda das Pedras é um livro profundo e que por momentos consegui enxergar claramente algumas das cenas do livro. Deixo aqui uma frase do autor que sem dúvidas, você irá guardar no coração:
“O amor, ele mesmo, não escolhe nome, tempo ou lugar” (p.62)
Conheci esse livro e o autor através da Leitura Coletiva promovida pela LC Agência de Comunicação, grande parceira do blog e muitos da equipe já são verdadeiros amigos que a literatura me trouxe! Obrigado, galera da LC!
Saiba mais sobre o autor:
Edson Freitas de Araújo nasceu em Cruz das Almas, interior do Recôncavo Baiano. Filho de Leandro Costa Pinto Araújo e Eremita Freitas de Araújo, ambos falecidos, é o mais novo dentre os três filhos do casal.
É graduado em Agronomia, pela UFBA e pós-graduado, pela UNICAMP, na área de Genética e Biologia Molecular (mestrado e doutorado). Atua como Professor Titular da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) desde 1994, e desde então desenvolve trabalhos de ensino e pesquisa na área de Genética e Evolução.
Instagram do autor: @edsonfreitasdearaujo
Abraços Literários,
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