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TERRA SONÂMBULA - MIA COUTO - Resenha

Mia Couto é um escritor moçambicano, um dos autores mais consagrados de seu país. Recebeu o Prêmio Camões em 2013 e o "Prêmio Nacional de Ficção da Associação dos Escritores Moçambicanos" em 1995 pela obra “Terra Sonâmbula”, seu romance de estreia na literatura.

De suas obras, também é válido destacar os seguintes títulos: “A Varanda do Frangipani” (1996), “O Último Voo do Flamingo” (2000), “Antes de Nascer o Mundo” (2009) e “A Confissão da Leoa” (2012).



Terra Sonâmbula conta a história de Muidinga, que perdeu a memória e muitos dos sentidos simples do ser humano, e agora conta com a ajuda de Tuahir, já de idade avançada, como guia no resgate da história do menino, que sonha encontrar os pais e recuperar sua memória.


“O velho teve que lhe ensinar todos os inícios: andar, falar, pensar. Muidinga se meninou outra vez. Esta segunda infância, porém, fora apressada pelos ditados da sobrevivência.”


No caminhar dos dois, é possível perceber que eles fogem da guerra, que é o confronto civil do país, Moçambique. Guerra essa que ocorreu de 1977 a 1992. Daí o título certeiro do livro, “Terra Sonâmbula”, pois é como se o país não tivesse um descanso, pois vivia em conflito.

Ao caminharem na estrada, o menino e o velho, encontram um ”machimbombo”, que é o nome dado para os ônibus em Moçambique, queimado. Junto do veículo, encontram vários corpos e resolvem enterrá-los para fazerem dele abrigo.

Dos corpos, um não está queimado e junto dele encontram um caixote e ao abrirem descobrem que se trata dos “Cadernos de Kindzu”, onde é contada a vida desse rapaz.

E a cada capítulo da obra, parte da história se intercala entre o passado que é lido por Muidinga, que mesmo sem memória sabe ler, e o presente, que é a vida solitária do velho que escuta as histórias lidas pelo menino com amnésia.


“O miúdo se levanta e escolhe entre os papéis, receando rasgar uma folha escrita. Acaba por arrancar a capa de um dos cadernos. Para fazer fogo usa esse papel. Depois se senta ao lado da fogueira, ajeita os cadernos e começa a ler. Balbucia letra a letra, percorrendo o lento desenho de cada uma. Sorri com a satisfação de uma conquista. Vai-se habituando, ganhando despacho.”


Kindzu é jovem e em seu caderno, ele relata fatos de sua vida e infância pobre e difícil. Valendo destacar o abandono da mãe, o alcoolismo e o sonambulismo do pai e também fala da guerra.

Com o belo artifício dos diários, o autor consegue unir a história dos dois garotos, um morto e o outro vivo e a cada capítulo, conhecemos o país africano.

Para passarem o tempo, o velho e o menino leem as histórias dos diários encontrados no veículo queimado que em parte do livro serve de abrigo e esconderijo para os dois contra a guerra.

Com um final surpreendente e fantástico, é impossível não recomendar a leitura!

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